Em janeiro de 2011 eu vim a Brasília nas férias do mestrado que fazia em Barcelona. Aproveitei para tirar fotos para fazer uma análise para o curso de vitrinismo que eu também fazia lá e precisaria apresentar assim que voltasse. Por um acaso me chamou a atenção a vitrina na Maria Filó, no shopping Iguatemi (que é onde tem algumas vitrinas interessantes na capital). A análise que fiz foi sobre direcionamento de linhas, peso dos elementos, psicologia das cores e gestalt. Por casualidade, em janeiro deste ano, passei em frente a loja e adivinhem? Era praticamente a mesma vitrina do ano passado. Eu sou a favor de economizar no projeto e reutilizar materiais de outras vitrinas, sim. Acho que a tendência é essa. Mas não precisa economizar também na criatividade, não é? Que tal contar outra estória? Afinal, as vitrinas nos contam estórias. A vitrina do ano passado me contava algo super interessante, mas a desse ano me conta só que resolveram reaproveitar a idéia do ano passado, ou que faltou tempo. Mesmo se esse senhor for um ícone da liquidação da Maria Filó (nada contra), este ano ele simplesmente não nos emociona. Vamos liquidar sem abrir mão da criação?
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
sábado, 21 de janeiro de 2012
Fim de ano em Brasília - Uma bolsa de peso!!! Muito Peso!
Quanto tempo desde o último post, não é? A volta pra Brasília dificultou um pouco, mas difícil mesmo era sair com o barrigão de oito meses pra tirar fotos. E para minha surpresa, minha filhota nem esperou o ano terminar para nascer, quis vir ao mundo dois dias antes de mudarmos de ano. Mas, antes de tudo isso acontecer, uma amiga me ligou animadíssima para falar da vitrina da Louis Vuitton no shopping Iguatemi (pra variar) e tive que ir conferir, afinal, não é todo dia que achamos boas vitrinas na capital.
Chegando lá, me esquivando dos seguranças para tirar a foto, fiquei impressionada com a beleza e com o capricho, que não estamos acostumados a ver por aqui. Pena que sempre que vemos tanto esmero, são de criações que vêm de fora. E poderíamos prover vitrinas do mesmo nível aqui na cidade. Basta criarmos essa cultura, não é verdade?
A vitrina da Louis Vuitton segue uma tendência da marca em utilizar animais da savana em tamanhos consideravelmente grandes que, aliados a uma prazerosa combinação de cores e texturas, causam um grande impacto para quem vê.
Utilizar objetos em tamanho real (quando já são grandes por natureza) ou "agigantados" como, por exemplo, uma garrafa de 2m de altura, é um dos recursos mais eficientes para chamar a atenção. Provavelmente o elefante é uma peça em plástico (made in china?) que foi enviada para a montagem da vitrina, porém, um recurso quando não se encontra peças já prontas é esculpir em poliuretano (agrupando várias placas) ou modelar com tela de galinheiro e fazer o acabemento com papel, tecido ou o que a criatividade deixar.
Além do apelo visual, a vitrina da Louis Vuitton é interessante também pela comunicação simbólica que traz a imagem. Através do jogo de pesos, entendemos o "VALOR" que tem uma bolsa Louis Vuitton. Pesa mais que um elefante? Então é uma bolsa de muito peso, refletido no que se paga por ela. Genial.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Imagine uma mulher linda tocando violino só de lingerie?
Dá pra imaginar muitas coisas com a
vitrina da Intimissi, loja especializada em lingerie, e até criar fantasias
"cult". Bom, pelo menos é isso que absorvemos além da bela imagem com
partituras e violinos flutuando entre calcinhas e sutiãs. A mistura de mulher
sensual com música pode chegar a cada um de diferentes formas: pode remeter à
mulher como musa ou à mulher musicista. De uma forma ou de outra, a vitrina traz sensações deliciosas para quem a observa.
A criação ficou super poética e impressiona pelo
movimento que se conseguiu criar com os papéis para dar a sensação de que estão
voando. As dobras dos papéis e a disposição destes são tão reais que parece que
acabou de passar uma ventania, um segundo antes, apesar de a vitrina ser
estática. Tudo está sustentado apenas com fio de nylon.
Muitas lojas optam por não fechar o fundo da vitrina,
assim os transeuntes conseguem observar a loja por dentro. Porém, a dificuldade que
se tem é em conseguir criar um cenário nesse espaço aberto, que se mistura
visualmente com tudo que há na loja. Neste caso, a idéia e os elementos da composição
prevaleceram e ficou ideal para uma vitrina sem fundo, mas muitas vezes um
semi-fundo que apenas delimite um pouco o espaço da vitrina e crie um contraste
figura/fundo é o mais aconselhável.
domingo, 13 de novembro de 2011
Uma vitrina de papelão: barata, simples e igualmente boa.
As vitrinas que utilizam materiais caros e cujos
projetos são dispendiosos estão chegando ao fim. O design de vitrinas se adapta à realidade que vivemos e, portanto, se busca cada vez mais utilizar
materiais alternativos e, quando possível, os próprios produtos da loja. Uma
loja de tecidos pode utilizar o material de venda para a decoração da vitrina,
assim como uma loja que vende caixas e utensílios gerais para o lar pode
aproveitar o recurso disponível para fazer uma conexão entre o que se mostra e
o que se vende. A loja Servei Estació é um clássico em Barcelona, tem mais de
cinco andares de todo tipo de material para pequenas reformas, utensílios para
o lar e materiais de arte e artesanato do tipo "faça você mesmo". Um
dos produtos vendidos por eles são caixas de papelão de todos os tamanhos, para
todos os fins, que são utilizados na vitrina para compor a decoração de uma
maneira simples.
A diferença é que a vitrina foi bem composta,
utilizando muitos elementos repetidos para dar essa textura e preencher o
espaço. Os bustos e cabeças também são vendidos lá, entre outras peças de
cartão, de poliuretano ou isopor que são vendidas para artistas e
vitrinistas. A repetição é uma das estratégias que
podemos utilizar no projeto. Se colocamos vários de um mesmo objeto à venda,
causamos impacto e chamamos a atenção através da textura que se forma.
O papel e o papelão são
ótimos materiais para se trabalhar, principalmente se estão sendo reutilizados,
se damos um segundo uso na criação da vitrina. Além de serem baratos, é
possível fazer qualquer coisa com eles. A partir de estruturas básicas e
fundamentos do design de embalagens podemos modelar todo tipo de objeto para
utilizar na criação de vitrinas. Não é o caso desta, mas poderia ter sido.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Guerra ao frio | Bershka - nov/11
Bershka é uma das
marcas do grupo inditex (do qual Zara, Stradivarius, Massimo Dutti, entre
outras, fazem parte), cujas vitrinas são sempre muito bonitas e inovadoras. É
incrível como essas marcas se destacam perante outras em uma avenida de grandes
lojas.
O ponto forte dessa criação é tridimensionalidade que
apresenta. Por utilizar uma cor só, o excesso de formas não polui em nada o
cenário, ao contrário, a mistura de desenhos planos com desenhos
tridimensionais confere a sensação de que móveis brotam do solo, de que estão
em movimento.
A composição é bem equilibrada
e composta de dois triângulos principais: um formado pelas luzes brancas e
pelos modelos masculinos e outro formado pelas modelos femininas. É importante
aplicar as leis da Gestalt no momento da criação para conferir estabilidade,
para transmitir a sensações que se deseja e para direcionar o observador. O
triângulo, por ter a base larga, confere estabilidade e ao mesmo tempo
dinamismo (elementos em diferentes alturas). É a forma mais utilizada
na construção de vitrinas, mas isso pode ser rompido em projetos bem
estruturados e com diferentes propósitos.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Quando a criatividade tá em crise I
Como
nem tudo são flores, quero aproveitar o espaço para mostrar o descuido de
algumas marcas. Algumas não, muitas marcas. Nesses últimos dias fiquei
impressionada com a falta de investimento sem justificativa, já que em
Barcelona o mercado está saturado de estudantes dispostos a cobrar pouco (ou
quem sabe nada) para criar um bom projeto e ter sua criação em uma loja
importante (eu já fiz isso com o maior prazer, inclusive pra uma loja
desconhecida, apenas pela localização e por aprendizado). Infelizmente a
divergência entre as vitrinas de marcas que estão no mesmo patamar é
enorme.
Bom, como são muitas as que fazem parte do clube
"criatividade em crise", vou postando pouco a pouco as que mais
chamaram a atenção (infelizmente, pela falta de beleza). Assim podemos
visualizar claramente a diferença entre um bom projeto, como alguns já comentados
em outros posts, e uma vitrina qualquer. Podemos entender como é possível
modificar a cultura brasiliense e reforçar a tendência que temos para a arte.
Cada dia mais vemos como Brasília tem sede de criar, como os grupos de
artistas, designers, cineastas e entusiastas de todos os tipos trabalham para
mudar a cidade. Acredito que em breve passaremos de uma timidez visual para ser
uma referência criativa. Temos tudo para isso.
Voltando às vitrinas, acho que vale a pena comentar
sobre as lojas que estão usando pôster (ou banner) como recurso... O pôster
como fundo deveria ser usado com muito cuidado, porque podem poluir o espaço e
desviar a atenção dos produtos. Além disso, o uso de fotografias enormes do
tipo capa de revista parece ignorar e menosprezar o espaço tridimensional que a
vitrina oferece para a construção de um pequeno mundo, de uma cena rica em
texturas, profundidade e detalhes.
No caso da Guess, a vitrina não fala por si só.
Usar malas como decoração requer cuidado, porque elas são bem clichês. Na
temporada agora tem pelo menos umas três vitrinas assim. Como isso não foi
suficiente para transmitir a idéia da mulher aventureira que pede carona na
estrada, o banner gigante foi usado para reforçar o que se pretendia comunicar.
Hmm... Dava pra ser bem melhor, não é? Desde a escolha do tema como no
desenvolvimento da idéia.
A vitrina da Jimmy Choo bateu o recorde. O banner foi
colocado em primeiro plano, para eliminar a vitrina de uma vez. Como se não
fosse suficiente, deixaram um micro-espaço com uma decoração sem conceito
nenhum que engole os sapatos tornando o espaço da vitrina um total desproposito.
Será que alguma outra loja ainda tem chances de ganhar o troféu?
Por último, utilizando o mesmo recurso, vemos a
vitrina da Hugo Boss. Nenhum conceito foi trabalhado para a temporada e o
espaço destinado a isso foi ignorado. Portanto, como a vitrina não transmite
muito da identidade e o conceito da marca, foi necessário utilizar o banner
para dar o ar que eles imaginavam. Muitas
lojas fazem isso para não ter trabalho de contratar vitrinistas ou montadores
independentes em cada cidade do mundo onde têm a loja. Porém, isso reflete de
maneira direta no processo de interação e comunicação. Afinal, quem não prefere
entrar em um ambiente que te oferece todo um mundo de sensações independente de
preço, de classe, de qualidade?
* Montadores
= são os que apenas montam a vitrina a partir da idéia e instruções de um
designer que pode estar em qualquer canto do globo.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Street art, cores, contrastes: Hermès - out/2011
As vitrinas da Hermès são sempre lindas, diferentes e inovadoras; por isso a marca é referência no tema. Para lançar seus novos lenços (famosos "carrés"), cujas estampas têm por volta de 45 cores que são impressas uma a uma, a marca decidiu levar a inspiração de forma concreta para suas vitrinas. Kongo é o artista francês que estampa a linha de "carrés grafitados" e que foi convidado também para produzir a vitrina que expõe as peças no Passeig de Gràcia, Barcelona.
A vitrina com os tijolos, que literalmente transportam a arte das ruas para a loja, chama bastante atenção. Hoje, pessoas que sabem que estou fazendo fotos para o blog me perguntaram empolgadas se eu já tinha visto a loja da Hermès. Já tinha visto e fotografado, mas como a empolgação alheia é a minha empolgação, calhou comentar sobre a loja.
O conceito da coleção segue uma tendência da Hermès em
conectar a grife com a arte, e de fato isso traz um frescor muito bem vindo. O
contraste de cores, conceitos e camadas sociais (já que o graffiti não nasce de
luxo) trouxe um tom de diversão para a vitrina. Porém, a iluminação e o peso
correto das peças expostas (apenas dois lenços) mantêm a elegância e o
prestígio da marca. É muito importante observar os elementos que conferem o
valor ($) associado à marca para poder inovar na criação das vitrinas. Aqui
temos um ótimo exemplo de como trazer referências opostas ao requinte da loja:
o "lenço de seda grafitado" resume esse contraste que é a proposta da
coleção, e a vitrina por sua vez ressalta a elegância através do uso de poucos
elementos e da iluminação, que funcionam como um truque "obra de
arte". O truque consiste em deixar a peça isolada como se fosse um objeto
de contemplação, com os focos de luz apontados diretamente para ela. Todas as
lojas mais caras fazem isso, a diferença é que muitas fazem apenas
isso, não tem conceito trabalhado na vitrina. Portanto, palmas para a
Hermès!
Quanto à composição, faltou somente um pouco de
cuidado com a forma total da mesma. Composições triangulares são ideais porque dão
dinamismo e estabilidade ao mesmo tempo. Aqui, o painel principal ficou um
pouco estático, com os dois lenços praticamente à mesma altura. Acredito que um
pouco de assimetria viria bem, sem prejudicar a idéia. Nos displays, os objetos
expostos se perderam nos tijolos, assim que seria o caso de repensar a disposição
e as cores (ou da pintura, ou do objeto) para evidenciá-los.
Referências:
http://www.arteenlared.com/espana/de-todo-un-poco/kongo-for-hermes-una-intervencion-artistica-en-el-escaparate-de-hermes-barcelona.html (sobre o artista e a vitrina)
http://iloveprints.com.br/eu-amo/carre-hermes/ (sobre os carrés)
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Vitrina para uma oficina de conserto de roupas!
Já
não me espanta a variedade de negócios que valorizam a vitrina como recurso de
contato visual com o cliente, mas continuo achando o máximo a naturalidade com
que vêem isso. Aposto que muitas pessoas passam em frente a essas lojas e as acham
comum, porque estão mais do que acostumados. Acham até estranho quando eu paro
para tirar fotos de lugares pequenos e sem muita relevância, como esta oficina
de conserto de roupas. A vitrina é simples e bem focada no propósito da loja, não
confunde quem a vê (pois está muito claro o tipo de negócio). O que chama a atenção
realmente é a finalidade dela, pois a primeira função da vitrina é expor os
produtos vendidos, mas nesse caso o que se vende é um serviço. Lindo, não?
terça-feira, 25 de outubro de 2011
A magia das borboletas | Stradivarius - out/2011
Eu
sou suspeita para comentar sobre essa vitrina, porque vivo uma conexão profunda
com as borboletas e o simbolismo da transmutação e renovação a que remetem, mas,
acho que de uma forma geral, a criação é magnífica e tem um forte apelo para o
público feminino. A composição nos convida a conhecer de forma mais profunda a
essência da mulher; está impregnada de magia, delicadeza e pureza.
A
vitrina mistura referências religiosas com elementos de contos de fadas,
criando assim um céu místico e fantástico. A predominância do
branco e a iluminação - com luz dura e quente direcionada desde a cabeça - transmitem a idéia
de "elevação espiritual" e transformam as manequins em verdadeiros
anjos. O fundo com textura de mármore nos traz recordações de paredes e pisos
de santuários, igrejas ou templos. As perucas loiras, quase brancas, nos
lembram a cabeleira de anjos bem estilosos, mas me lembraram também pássaros
exóticos, que contribuem para essa cena que mistura o “paraíso” com um bosque
onírico. Por sua vez, o bando de borboletas na cor violeta nos envolve com
misticismo, nos levam a lugares onde deveríamos encontrar fadas e seres
encantados.
Essa aura dupla traz uma riqueza de sensações de uma
forma sutil, simples e concreta. Assim, vemos uma composição bem amarrada, que
logra transmitir a idéia proposta com poucos elementos e, à parte, apresenta a coleção
com uma ótima escolha das peças expostas (peças monocromáticas que desviam a atenção
para texturas e brilhos).
* Dicionário de iluminação: luz dura = que cria muitas
sombras, luz quente = amarela.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Padaria sim, por que não?
O que realmente me fascina em
cidades que estão mais familiarizadas com o design, devido a um maior tempo de
prática, é que se respira arte em qualquer canto. Ver vitrinas de marcas caras
é normal, não é? Mas e vitrina em açougue, padaria, frutaria, etc? Pois é! Eu fico emocionada quando passo em frente a uma padaria
pequena qualquer e vejo uma vitrina. E uma vitrina bonitinha, hein? Digo isso porque
tem aquelas que até dedicam o espaço à vitrina, mas, infelizmente, só pioram o
local com ela. Na Europa é comum ver negócios pequeninos com uma vitrina fofa.
É surpreendente, não é? Por que não levamos essa prática para nossa cidade?
Custa pouco e o retorno é enorme!!!
Essa padaria está em Barcelona, no
cruzamento da calle Girona com a calle Consell de Cent. A padaria é super
antiga e a fachada de outros tempos foi preservada, com esse toque art nouveau.
A vitrina é simples e não muda com freqüência. Apenas os pães (reais) são
substituídos de vez em quando, para evitar que se estraguem à vista do público
e que atraiam insetos. Os pães se conservam bem durante alguns dias e os
padeiros até investem na decoração com formato de patinhos, bonequinhos e outros
para uma aura de descontração. Neste caso a vitrina é simples, mas podemos brincar com a sazonalidade e incorporar temas em cada estaçao. Eu sou a primeira a escolher minha padaria pela apresentação. É mais do que prazeroso entrar e consumir em um lugar visualmente aconchegante.
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